Minha mãe se chama Sandra. Dizem que foi uma homenagem do meu pai na saída do hospital colocar meu nome de Sandro. Eu era pra ser Marcos. Márcio, Marcelo e Marcos. Cafona né? Aí meu pai num ímpeto amoroso ofereceu à sua digníssima esposa o nome do seu filho caçula. Lindo né? Na verdade, nunca perguntei se essa história é verídica.
Domingo é dia da Sandra, da Jussara, da Flávia, da Cláudia, da Fulana e da Beltrana... Qualquer uma que um dia embarrigou e deu a luz! Ou então, teve a benevolência de adotar um filhotinho de outrem.
Dizem que mãe só tem uma. Se for assim ela é minha! Sempre vivi com minha mãe, desde guri quando meu pai saiu de casa, eu tinha 15 para 16 anos. Meus irmãos foram um para cada lado e eu fiquei com a Dona Sandra. Minha parceira inseparável de longas conversas ao pé da varanda nas manhãs ensolaradas da nossa mansão na zona sul.
Eu sei que falar de mãe é chover no molhado, cada um ama a mãe que tem e a que não tem... Uns odeiam, outros desgostam, mas mãe é mãe e quando chega nessa época, por mais comercial que seja a data, acho justíssimo homenagear essa figura que é capaz de cometer loucuras por nós.
Capaz de se juntar com um matungo qualquer que lhe promete amor eterno, procria um, dois, três, quatro... Engorda 20KG, carrega uma melância na barriga por 9 longos meses, recebe jatos e mais jatos de hormônios que devem fazer a cuca dela (que já não é muito boa) fritar. E depois disso tudo meu filho, ainda desfrutar da famosa "dor do parto"! Minha pedra no rim é café pequeno.
Nasce o serzinho e começa a via crucis. "Até que a morte nos separe" deveria ser dito na hora do nascimento e não no casamento. Acho que esse texto foi plagiado em algum momento da história. Seja ele bonzinho ou um delinqüente, lá está a mãe venerando sua prole.
Hoje já não moro mais com minha mãe, vejo ela menos do que gostaria, o que mais eu sinto falta é das conversas que tínhamos. Na cozinha minha mãe sempre foi uma aberração, esforçada, mas ruim de fogão. Um dia ela foi a mãe de todos lá na escola. Trabalhou ao meu lado e nos divertimos muito. Tive o prazer de ministrar uma prática de SwáSthya para ela. Minha mãe é boazinha sabe? Gosta de todo mundo, chora vendo reportagem de bicho em extinção, vive para a família, cuida menos de si do que gostaria que eu sei, está há 20 anos para começar a caminhar e emagrecer de vez pra voltar a ter o corpinho de uns dias, sonha com um mundo melhor, admira minha profissão, é apaixonada pelo Bruce Springsteen sem nunca tê-lo visto mais gordo, come pouco, e gosta mesmo é de um leite quente com bono de chocolate no meio da tarde... Tem carteira de habilitação e nunca dirigiu (e os filhos colocam todos os pontos na carteira dela). Conta com um brilho nos olhos de uma viagem que fez à Roma e seus olhos só brilham mais quando fala dos netos que chegaram pra preencher ainda mais sua vida atribulada. Se arrepende de não ter estudado mais e de ter sido alguém na vida. Pobrezinha... Mal sabe ela que é mais gente que muitos! Que caráter e índole, diploma nenhum compra.
Domingo eu vou lá, dar aquele beijinho de filho pródigo e querido, ela vai dizer que eu sou o preferido, eu vou acreditar, ela vai me contar uns causos da vida, eu outros... E depois ela vai querer que eu vá embora por que ela sempre acha que tá incomodando. Vai me dar um abraço carinhoso, vai dizer que me ama muito e depois me xingar dizendo que eu estou muito longe de todos. Resquício da "Polaquês" da família!
Essa é minha mãe!
Dona Sandra do meu coração.